sexta-feira, 18 de abril de 2008

para a Ana Luísa Amaral um estorninho russo

Resposta Tardia

Para Marina Tsvetáeva


Invisível, espectro, ave escarninha,
por que te escondes nos arbustos negros?
Na casota esburacada do estorninho,
nas cruzes quebradas ora faíscas,
ora gritas da torre de Marinka:
"Hoje voltei a casa.
Admirai, campos maternos,
o que por causa disso me esperava.
Meus seres amados sorvidos num abismo,
a casa dos meus pais aniquilada."
Hoje andamos, Marina, tu e eu,
pela capital da meia-noite, em nossa
peugada milhões de semelhantes,
e não há procissão mais silenciosa,
à volta dobram fúnebres os sinos
e os gemidos selvagens da nevasca
moscovita, cobrindo nossos trilhos.

Anna Akhmátova, 16 de Março de 1940

Sem comentários: