terça-feira, 17 de junho de 2008

Convite (transmissão de)

A Livraria POETRIA convida todos os que sentem a poesia "de todas as maneiras" para a apresentação do livro "Amanheceste em mim pelo poente", de José Custódio Almeida da Silva, no próximo dia 20/06/08, no Palacete Balsemão, pelas 21,30 h.

A Drª Maria Helena Padrão fará uma intervenção sobre o autor e serão lidos poemas com acompanhamento musical (guitarra clássica), seguindo-se uma sessão de autógrafos.

Informações: 222023071


POETRIA

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Dizer poesia

No "Câmara Clara", ontem, especial evocação de Pessoa e suave menção de esplêndidos outros, com a presença da fabulosa Germana Tânger, hoje com 88 anos.
Espero que tenham assistido.
Imperdível, de mágico.



GERMANA TÂNGER foi professora de dicção no Conservatório Nacional durante 25 anos. Apresentou o programa semanal «Ronda Poética», na RTP.
Em 1948 iniciou um longo percurso durante o qual divulgou por todo o mundo grande parte dos poetas portugueses, através de muitos recitais que realizou.
Em Novembro de 1999 fez a sua despedida artística no Teatro da Trindade, 40 anos após ter dito pela primeira vez a «Ode Marítima», de Álvaro de Campos.
Em Setembro de 2004 foi publicado pela editora “Assírio & Alvim” um livro-áudio, prefaciado por José Augusto França, com poemas de Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, seleccionados e ditos por GERMANA TÂNGER, agora com a veneranda idade de 86 anos.
Trata-se de uma gravação ao vivo feita no Teatro S.Luiz no início da década de 1970, por ocasião de um recital de poesia e piano por Germana Tânger e Adriano Jordão.
Fonte NOVA CULTURA – Novembro 2004

domingo, 15 de junho de 2008

Dias iguais ou o desejo de outra coisa

Quando os dias parecem repetidos
Acordo com um sono simétrico
À preguiça de uma noite igual a esta
Quando me sinto nestes dias copiados
Quero coar as horas que escorregam
Para aquele espaço onde ponho o que não presta

Parece que conheço estes minutos
E quase adivinho o que se segue
Um tempo pardo sem cor
e sem sentido
Que insiste em correr determinado
Para este plágio de um dia já passado

Quando me sinto assim eu repetida
Tenho vontade de viver outra vida
Outra eu, outras tantas que eu fosse
Para outros lados que tanto eu
Me dirigisse
E tudo novo, tudo outro
E um outro dia

Outra Noite - Chico Buarque

domingo, 8 de junho de 2008

Regressar sempre a Mahler.
Nenhum outro, e foram tantos, trouxe a melancolia tão à superfície do mar. Nenhum outro, e como são inesquecíveis, trouxe o acorde da comoção de tão longe. Nenhum outro, e não os esqueças, levou a devastação da perda tão ao fundo da beleza.
“Wo die schönen Trompeten blasen” por Anne Sofie Von Otter no ciclo de canções “Des Knaben Wunderhorn” e todas as outras.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

COMO DESABITADO, O CORAÇÃO

Podem acontecer milagres. Podem
acontecer, e então a música decerto estará lá,
as palavras surgirão então, o sol, o girassol, a luz
que gira em torno de eixo feito de outra luz.
Poderia ser deus, ou paz.
Sentir. E de repente o mundo a acontecer,
o milagre do mundo a acontecer –
Milagres.

Lázaro em vestes brancas,
ausente o pó do quarto onde morara, entretecido
a morte e cheiros de planeta envelhecido.
A estrela nova nascendo dos seus pés.
Eis-me, em milagre e mudo.

Lázaro, a sua voz
em sinfonia muda

Ou a violência dentro do coração,
vibrando dentro do coração, ventrículo desfeito
por esta certeza: surgirão as palavras a seguir,
tão lisas e potentes como a música.
Milagres.

Podem acontecer.
Serão como a beleza das pirâmides, a
perfeição: onde pequeno seixo atravessado em falha?
Onde folha finíssima por entre as pedras, as siamesas pedras,
resistentes ao vento e ao deserto, a sua forma, a esplêndida,
a forma mais capaz de resolver enigmas?
Nessa folha finíssima, ou na pedra:
o mais puro milagre

Podem acontecer: junto ao deserto do gesto desumano,
o chicote, a tortura, o revólver bramando no vazio,
a mão que se detém, a boca que não grita,
Lázaro, a sua voz. Igual a música
Eis-nos, e mudos


O conhecer mais puro. O ar que traz os sons,
o tempo a transportar a luz. As estrelas já mortas,
de onde nascemos, a sua luz ainda. Aqui, junto de nós.
Habitar sem saber a mecânica quântica, igual
a habitação de coração.
O pensamento mais iluminado.
Saber da energia, o mais puro conceito.
Como Deus

Milagres. Podem ainda assim
acontecer ao longo do deserto, das fronteiras
erguidas, quase tocando o céu, como pirâmides.
De Rodes, o colosso dividindo, mas aberto aos navios,
o sândalo, a canela, especiarias, mais de mil cheiros,
saltos de gigante, pirateado o coração e o sol.
E ao seu lado, a voz humana:
Cal viva e uma paisagem de cacto e maravilhas.
Alguns

milagres.
Junto à vida amputada, à clave, à carne rota,
ao eminente apodrecer das cores:
capazes de fazer tombar ruídos longos,
e ficar só um timbre, mas mais que uma miragem,
um timbre, som de diapasão vibrando pelo tempo,
ou festa de Babel.
A estrela que morrera, a sua luz cruzando
o velho éter, já não éter, mas tempo

Anoitece, e está vermelho o sol ao lado das pirâmides.
Há-de ser isto o eixo de outra luz,
amigos a saudar-se, devagar,
ao lado do silêncio, hão-de surgir.
A eclosão de impérios. Cheiro o cheiro a marfim,
de sílabas tão brancas

Lázaro fala, pela primeira vez.
rouco de voz, primeiro, depois a sua voz:
Eis-me em milagre, mundo!

E o reconcerto abate-se na luz,
e um dedo basta para o reconforto. Um dedo.
As suas veias. Fio de cabelo ou pena de pavão
tornam-se sons, leve ponto de açúcar, se o vento de galáxia
os amacia. Podem então,
em longo desconserto


E encostada à música, essa palavra nova nascerá:
sina dos olhos que não viram nada,
mas com peixes ao fundo, multiformes,
a voz sem palco e tudo a acontecer,
Podem então, alguns deles então, acontecer,
a derradeira vez como
primeira vez -


Ana Luísa Amaral


Poema original, para todos.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Entrevista e Notícia

Também soube da notícia hoje. Espero que a Ana Luísa não leve a mal que eu (re)publique aqui a sua entrevista ao JPR (rádio do curso de ciências da comunicação). Está em formato de vídeo porque não sei como colocar audio no blogue. Também podem ler a notícia do JPN (ciberjornal do curso). E aproveito para fazer publicidade aos dois.

P.S.: O jantar correu bem? Tive imensa pena em não ir mas em semana de exames e entrega da trabalhos é difícil.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

LINDO!

Visto hoje, no "Global":

ANA LUÍSA AMARAL VENCE PRÉMIO!

O Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores foi atribuído ao livro “Entre dois rios e outras noites”, de Ana Luísa Amaral.
O júri tomou a decisão por unanimidade.
Nascida em Lisboa, Ana Luísa Amaral vive em Leça da Palmeira e é professora universitária.

E foi a nossa musa!
E uma "diseuse" fenomenal; uma inspiração.
Obrigada pelo tempo, carinho e... clandestinos cigarros!
Xi-coração!