sexta-feira, 18 de abril de 2008

E como soneto ainda não há, mas não podendo deixar de vos acompanhar nesta aventura, um poema a partir de um verso de um dos meus poetas favoritos: Paul Celan. 

Depois da chuva a melancolia

para o LM 
resposta ao sonho:
poeta

"a melancolia infinitamente presa à terra"
tu és eu com menos vinte e três nadas
eu sou tu - do meu silêncio indecifrável vens -
tanto desassossego que nos entra pela chuva
o teu olhar rouco enclausurado no meu
e queríamos morrer
e queríamos morrer

ouvir-te, eu redonda - cheia de entranhas -
tudo - não estranho - ser das minhas pálpebras
as tuas mãos asas riscadas pelo meu arado
o teu rosto inscrito na terra que piso agora
o teu rosto escavado no meu
e queríamos morrer
e queríamos morrer

dizíamos então a sussurrar depois da chuva 
                              a melancolia

1 comentário:

Joana Espain disse...

Obrigada por este poema. 'tanto desassossego que nos entra pela chuva...'